Invencível (2ª Temporada) | Mais violenta, mais madura e ainda esquecida pela própria casa
A série de Robert Kirkman retorna aprofundando traumas, violência e amadurecimento dos heróis, mas sofre com problemas de distribuição e escolhas que enfraquecem seu impacto narrativo
No segundo ano da animação que surpreendeu todo mundo com sua primeira temporada cheia de violência, daddy issues e drama adolescente, Invencível retorna com tudo apesar dos problemas com sua própria distribuidora. A segunda temporada segue logo após as consequências do final do primeiro ano, quando Omni-Man (J.K. Simmons) confrontou seu filho Mark (Steven Yeun) e destruiu metade de Chicago no processo.
Como a maioria das séries, Invencível começa seu primeiro episódio mostrando as reações dos personagens diante dos eventos da primeira temporada, abrindo portas para novos desafios. Porém, a série teve um lançamento peculiar, com a temporada dividida em duas partes de quatro episódios. A primeira parte trata do luto de Debbie (Sandra Oh) e Mark pela perda de certa forma de Nolan, manifestando-se de maneiras diferentes nos personagens, até mesmo naqueles que não perderam alguém de fato. A primeira metade da temporada foca no amadurecimento desses personagens, os jovens heróis, que na temporada anterior perceberam que substituir os grandes heróis da Terra não seria fácil; agora, através da violência e dos erros, entendem que precisam crescer para alcançar suas projeções.
Mark é o personagem central dessas questões. A cada episódio e a cada acontecimento, ele se machuca não apenas fisicamente, mas também mentalmente. Cada vez mais ele percebe a necessidade de ser forte, pois as circunstâncias parecem todas contra ele, mesmo que ele não queira, e até mesmo pessoas não relacionadas sofrem as consequências. Invencível nesta segunda temporada está mais violento do que na primeira, não apenas pela violência gráfica, mas também por outros tipos de violência; a série quer ser mais visceral e séria.
No entanto, em alguns momentos, incomoda-me que essa seriedade não seja mantida, especialmente quando a série apresenta a morte de personagens que, magicamente, não permanecem mortos. Esse problema da morte é relevante, especialmente à medida que os personagens se aproximam de uma grande guerra; é preciso haver consequências reais, não apenas para vilões menores ou figurantes (Game of Thones mandou lembranças).
Gosto muito de como a série fortalece outros personagens além de Mark nesta temporada. Rex (Jason Mantzoukas) ganha mais espaço e evolui além do alívio cômico do canalha que era, assim como sua própria mãe, Debbie, e Allen (Seth Rogen), que têm mais destaque como alívio cômico. No entanto, sinto falta de Eve (Gillian Jacobs), que parece ainda estar buscando um propósito para seus atos heroicos e, por isso, se sente mais deslocada dos outros personagens.
A série é uma realização de Robert Kirkman, também criador dos quadrinhos de Invencível, assim como dos quadrinhos de The Walking Dead e Marvel Zombies. Com essa experiência em seu currículo, vemos como Invencível adapta tão bem uma obra de outro formato, como o humor ácido e sarcástico, utilizado com bom timing para conversar bem com a narrativa adulta de super-heróis. No entanto, essa adaptação tão bem articulada dos quadrinhos não é perfeita, especialmente com elementos que são diretamente dos quadrinhos, como personagens que ressuscitam.
No fim, a temporada é excelente e um dos melhores produtos do gênero de super-heróis, que parece cada vez mais desgastado com o público. Uma terceira temporada já foi confirmada, apesar de a Prime Vídeo não parecer valorizar tanto a série, devido à falta de divulgação e à fragmentação sem explicações que prejudicou ainda mais o alcance da série. Parece que The Boys, o "irmão mais velho", está recebendo mais atenção, mesmo que esteja se desgastando, enquanto Invencível é esquecido.